sábado, 31 de março de 2012

Espectador na área!!!

Recebemos por email um relato do Tiago Melo, ator e morador aqui de Interlagos, sobre o espetáculo “O Cidadão Perfeito”. Tiago veio assistir em nossa temporada e também conversou conosco sobre a peça e sobre o teatro. Ficamos felizes com o retorno e com o diálogo! É sempre bom, (sempre mesmo!) poder discutir e refletir nossa arte! Vejam aí:

O Cidadão Perfeito (por Tiago Melo)

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Velho tema, outro olhar!

O que mais fica do espetáculo é justamente esse outro olhar. Vai ano e vem ano e o nosso Brasil, contempla parado na frente da televisão, nos bancos das igrejas e na fala dos políticos a salada sem tempero que nos é oferecida. Assim o público e o privado ganham dimensão e a estética é assassinada. Religião-política-entretenimento estão unificados, num grande balaio de gato. Uma grande matança de boi. E, passivos contemplamos a farra e engolimos a seco a farofa. Com pouca dimensão de ética vamos perdendo a respiração e em pouco tempos-segundo, as leoas do jogo nos paralisa.

Bom, mas vamos ao espetáculo... Mesmo trabalhando com tema do senso comum, o grupo cria fortes e potentes imagens. Tornando visível o que, de tão claro, passa despercebido. A peça cresce quando a fala é substituída por imagem e nos é oferecido o senso crítico, com um olhar macro do nosso país. O cenário, ora a estação de trem, ora o ótimo recurso da projeção, se alterna e nos convida a embarca no vagão teatral.

Sim, é teatro! Não é realismo. O grupo com sua arte cutuca o público. Vocês estão aqui, pensando, não só para sorrir, mas para pensar o sorriso. Não para esquecer a vida, mas para refletir escolhas. Não deixamos de sentar na cadeira do capitalismo. Sim, temos três opções no máximo, mas temos! A acomodação, o seguir ou ficar na estação-vagão é uma escolha política. Não política que se faz nos partidos, mas no dia a dia. Não deixando naturalizar o que é cultura,l não deixando a bunda acomodar na cadeira.

Com ótimo trabalho corporal e vocal, os atores brincam com ondulações, timbres, volumes, planos, etc. Mostram que não estão interpretando e sim e atuando. Trocando entre eles, entre eles e o espaço, eles e o público. Barulhos e acasos são aproveitados com rapidez e humor.

Bons efeitos sonoros (ao vivo ou não), boa trilha musical, boa iluminação. E ótimas atuações.

A peça rica em imagem tem seu ponto fraco quando tenta justificar passagens de cena. O realismo fantástico de certa forma é didatizado e perde a potência do “tudo pode”. Algumas passagens poderiam ser diminuídas ou eliminadas, algumas imagens não precisariam da fala e algumas falas não precisariam da imagem. Acredito que a peça ganharia mais dinamismo.

Ex: A cena da Pastora com o público, a projeção do rato e os atores andando, os números do Ibop.

É isso! “Não deixe o samba morrer” mesmo que pra isso tenhamos que parar de sambar.

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