quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Relato

Meus movimentos a partir do treinamento do Lume: em busca de um ator marginal.

Por Tatiana Monte

O que podemos observar na linha do tempo do teatro é que sempre buscamos um novo ator. Sempre aparece a rejeição da representação da época e o surgimento de novas vontades.
A sociedade muda de valores, transforma-se, o espectador muda e precisamos sempre andar nessa paralela da vida. O que eu quero dizer muitas vezes não chega ao público pela forma que estou dizendo, ou seja, a representação, a estética, o ator estão em constantes mudanças.
Para cada momento e escolha estética, nasce um novo treinamento, que tem como função afinar o corpo em vida do ator a se comunicar. Por isso, quando penso em treinamento, em processo de criação me pergunto: Pra quem? Onde? Essas pequenas perguntas simples - porém muito complexas de profundidade – nos levam para um caminho de pesquisa às vezes bem específico. Independentemente do caminho a ser escolhido e trabalhado temos que pensar sempre em um ator que pelo seu trabalho incite o espectador a se questionar.
Tudo não passa de um jogo sério, onde o espectador tem o papel de interpretar e eu como atriz o de representar signos, uma troca, onde eu provoco e sou provocada, o espectador é provocado e provoca, quando o espetáculo acaba nos despedimos e retornamos aos nossos caminhos, mas nos questionando sobre o que acabara de acontecer ali.
Para que esse fenômeno aconteça precisa-se do preparo, o ator precisa, de uma maneira competente, entender o treinamento, que é a base, é preparar o corpo e a técnica, este corpo em vida – animado, habitado, vibrante, com energia (que vem do grego e significa “em trabalho”).  Simples, precisamos estar em estado de trabalho, presença e intensos, com tensão interna.
Trabalho e coletivo exigem questões éticas.
Um processo de criação parte de muitas práticas, treinamento, corpo em vida, discussões, reflexões, práticas, criações. Portanto, é necessário algumas questões que envolvem todos os presentes. Esperamos que exista uma disciplina para que possamos ir além, verticalizar a pesquisa; espera-se então um olhar generoso, de troca e de apoio dos envolvidos no processo.
Quando estamos em sala, no ambiente de trabalho, estamos presentes em corpo e mente, preparados para algo. Respeitar esse ambiente é respeitar o próprio trabalho, o silêncio é o barulho mais intenso nesses momentos, a comunicação se cala pelas palavras e abrimos um campo imenso de trocas por outros canais.
O espaço de trabalho passa ser um espaço de entrega total, de trocas verdadeiras dando um respaldo para as descobertas.
Tudo isso faz parte de um aprendizado que deve ser treinado todos os encontros, é importante as descobertas do corpo, do jogo e nos permitir a nos entregar de corpo e energia para o processo naquele espaço, espaço de tempo. Que pode ser em uma sala, em uma praça, em uma represa...
Talvez tudo isso seja o princípio, e partimos então desse ponto, ponto de vista meu para as demais descobertas.

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