quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ney Piacentini: o que está por trás da ânsia pela troca da Ministra?

Reproduzimos o texto de Ney Piacentini, presidente da Cooperativa, sobre o encontro da Ministra da Cultura, Ana de Holanda, na Assembléia Legislativa, nesta última terça-feira 10 de maio:


 Imprensa reduz o debate em encontro com Ana de Hollanda
por Ney Piacentini
É com espanto que ouço e leio hoje – quarta-feira (11) – a afirmação de alguns jornalísticos de que houve tumulto na saída da Ministra após o encontro com a cadeia da cultura na Assembleia Legislativa de São Paulo, realizado em 10 de maio. O que se testemunhou foram os próprios jornalistas pressionando pesado a Ministra para que ela se manifestasse sobre um problema pífio de diárias em viagens (que são emitidas automaticamente quando um Ministro viaja). Uma questão simples de ser resolvida.

O “Jornal Nacional”, da Rede Globo, destacou o acontecimento na noite do dia 10, mostrando cenas de violência entre a polícia e a imprensa. Mas o telejornal não falou do encontro e sim das diárias, numa atitude recorrente dos veículos de comunicação de buscar desesperadamente factóides que desmoralizem os dirigentes do país. Isto tem uma razão – o inconformismo com as mudanças que estão sendo operadas no Brasil, que não têm como protagonista a elite nacional e a mídia a ela vinculada. Um sintoma desta agressividade foi o episódio ocorrido ainda na tarde de ontem, na área externa do prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo, no qual um jornalista, ao ser impedido de falar com a Ministra pelos policiais da própria AL, enfiou-se (não se sabe como) dentro do carro do MINC, assustando a todos quando Ana de Hollanda iria entrar no automóvel. De onde partiu a animosidade?

O encontro com a Ministra foi quente, como sempre são nossos debates. Fomos os primeiros a falar, em meio a uma luta quase física nos bastidores, na intenção de defender ações propositivas para o momento e para o futuro próximo (leiam aqui carta entregue à Ana de Hollanda pela Cooperativa).

No evento, sugerimos disputar uma pequena parte dos recursos do Pré-Sal e com isso termos receitas para que convençam o Tesouro Nacional a aumentar os recursos para a cultura no Brasil. No entanto, a imprensa, até agora, ignorou as propostas colocadas na mesa do dia 10/03.

Em vez disso destacaram em suas coberturas a leitura de um manifesto dos músicos do Rio que dividiu a plenária, sem chegar a um consenso – ao menos no meu diagnóstico. Não foram todos que apoiaram as críticas contidas no documento. Muitos não o assinamos por discordarmos de seu teor, mesmo reconhecendo a falta de tato do MINC na lida com a questão dos Direitos Autorais.

É certo que a Ministra não teve muita destreza ao responder que, como o manifesto era dirigido à Presidente Dilma, não o comentaria. Mas como José Celso Martinez Correa cobrou que Ana de Hollanda respondesse ao documento lançado pelo Rio, reiterando às críticas ao MINC presentes no texto, este foi o recorte eleito pelos editores da “Folha de S. Paulo”, do “Estado de S.Paulo” e também do “O Globo”. Contudo, Zé Celso repercutiu minha fala propositiva, no sentido de contribuir com o MINC para que a Cultura não sofra os mesmos cortes orçamentários que pastas mais antigas e sólidas. O Ministério da Cultura, por sua juventude, não pode ser tratado pelo governo central como a Indústria ou a Agricultura, uma vez que ainda está despertando para as suas responsabilidades perante a nação.

Este comportamento autoritário da grande imprensa brasileira precisa ser confrontado, pois os interesses privados grassam em sua linha política e econômica. Querem derrubar um Ministro a cada mês com denúncias questionáveis. No caso da Cultura, temos que olhar com atenção o que está por trás da ânsia pela troca da atual governante cultural. São interesses públicos ou corporativos? Qual grupo político quer assumir o MINC? Os que por ventura vierem irão reverter o corte orçamentário promovido pelo núcleo duro do governo Dilma? Irão conseguir convencer a Fazenda a colocar mais recursos na Cultura, apontando constitucionalmente de onde irão virão as receitas, para que o Projeto de Lei Procultura faça avançar, significativamente, o peso das artes e das expressões simbólicas em nosso país? Ou irão cair na esparrela da politicagem descredibilizante de suas próprias bravatas que a mídia adora dar espaço?

Leia aqui a carta elaborada pelo Congresso Brasileiro de Teatro e entregue para a Ministra da Cultura Ana de Hollanda no dia 27 de março de 2011.

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